Tecnologia e Luta – Índios Online
Há, no Brasil, um forte preconceito em relação ao uso de inovações tecnológicas por indígenas e outras populações tradicionais. É muito forte a ideia de que o índio “deixa de ser índio” se tiver contato e utilizar aparelhos modernos, como o computador e o celular. Diferentemente de outros países da América Latina, no Brasil, existe uma visão que os indígenas deveriam manter exatamente a mesma forma de vida de antes da chegada dos portugueses, ou seja, no limite, esse discurso entende que somente é índio aqueles que “andam pelado”. É o espetáculo do exótico gerado num contexto completamente alheio a realidade dos indígenas atualmente. Nessa direção, existem pessoas que insistem em afirmar uma visão sobre índios como se esses precisassem ser “preservados”, assim como o são o mico leão dourado e o tamanduá bandeira, animais que ficaram famosos pelas gigantescas campanhas publicitárias.
Mas esta maneira de pensar está muito distante dos modos de vida dos indígenas no Brasil atualmente, e a manutenção desta maneira de ver, na verdade, configura uma imposição da cultura ocidental para que as culturas ameríndias sigam os caminhos por ela delineados até hoje. Se os portugueses queriam que os indígenas se tornassem trabalhadores passivos para serem explorados, hoje parte das representações acerca das comunidades indígenas exigem que estes permaneçam “parados no tempo”. Mas a ideia de fundo é a mesma: a anulação dos indígenas enquanto sujeitos capazes de decidir sobre sua própria vida e cultura, inclusive, sobre quais tecnologias irão adotar, quando, por que e como. A tecnologia não é boa ou ruim em si, mas também não é neutra, e as consequências de sua entrada em qualquer território não estão pré-determinadas, ela se incorpora a cada cenário social de forma diferente de acordo com os usos e limites de cada contexto. A tecnologia sempre fez parte da vida Tupinambá, seja na produção de ferramentas para a reprodução da cultura, caça, agricultura etc, seja nas organizações sociais e familiares e, dessa forma, a tecnologia construiu e segue construindo a vida Tupinambá assim como constrói também a vida nas grandes cidades.
No contexto dos Tupinambá de Olivença a tecnologia foi amplamente incorporada como uma ferramenta de luta: são utilizadas câmeras e celulares para registro, email e celular para comunicar aos parentes sobre as retomadas, constroem blogs e publicam nas redes sociais suas ações etc. Utilizam tecnologias de informação e comunicação para se contrapor aos ataques da mídia ligada aos interesses dos fazendeiros e também buscar apoio para sua luta. O principal exemplo de uso dessas tecnologias pelos Tupinambá é a rede ÍNDIOS ONLINE, sitio de informações sobre as comunidades indígenas instrumentalizado e gerido pelos próprios indígenas. É uma rede composta por índios voluntários de diversas etnias, contando com apoio da ONG Thydewá, do Ministério da Cultura, entre outras entidades. Foi criado com o intenção de ser um canal de comunicação capaz de dar voz aos povos indígenas, geralmente “invisíveis” à cobertura da grande mídia. Segundo a descrição no sítio:
Nossos objetivos são: Facilitar o acesso à informação e comunicação para diferentes povos indígenas, estimular o dialogo intercultural. Promover-nos a pesquisar e estudar nossas culturas. Resgatar, preservar, atualizar, valorizar e projetar nossas culturas indígenas. Promover o respeito pelas diferenças. Conhecer e refletir sobre a nossa situação atual. Salvaguardar os bens imateriais mais antigos desta terra Brasil. Disponibilizar na internet arquivos (textos, fotos, vídeos) sobre os nossos povos para Brasil e o Mundo. Complementar e enriquecer os processos de educação escolar diferenciada multicultural indígena. Nos qualificar para garantir melhor nossos direitos.
Mãe:
Vida, estrutura para crescer.
Fonte de Energia:
A natureza, a luta, o ritual.
Capacitador:
Pessoa que repassa o conhecimento e faz com que a resistência continue firme.
Memória:
O ponto mais importante numa demarcação, a permanência das práticas.
Resistência:
Manutenção do território e das futuras gerações.
Trilha:
Nossos objetivos e o caminho na mata.
Durante o período de residência do projeto foi instalada uma rádio livre na aldeia Tamandaré. A experiência foi bastante positiva e despertou a vontade de seguir fazendo rádio livre. Ao final da residência moradores da aldeia Tamandaré disseram ter o desejo de conseguir um transmissor e os outros equipamentos necessários para fazer rádio.