Marcelino
Caboclo Marcelino viveu nas terras de Olivença durante a década de 1930 e foi o personagem central de um grande movimento de resistência à tomada das terras indígenas de Olivença pelos coronéis do cacau. É um dos principais símbolos da luta Tupinambá pela terra. Marcelino é o guerreiro que gritava diante daqueles que tentavam fazer de Olivença a Terra Calada.
Todos sabem em Olivença sobre a luta de Marcelino contra a construção da ponte sobre o rio Cururupe. Mas Marcelino não era apenas contra a construção dessa ponte, e sim do que ela representava: esta ponte geraria a consolidação das grandes plantações monocultoras de cacau na região, permitindo a circulação de mercadorias e exportação da produção. Ou seja, a luta desse guerreiro era tanto contra um determinado tipo de progresso, quanto parar o processo de expropriação das terras indígenas, que eram cada vez mais griladas e passadas ao controle dos coronéis, ele era contra o roubo da terra e a consolidação da propriedade privada na região assim como a tentativa de transformação dos Tupinambá em empregados dos coronéis.
Marcelino sabia ler e escrever e isso incomodava os poderosos da época que negavam sua condição de indígena. Por causa de sua luta, passou a ser perseguido pela policia e acusado de crimes como estupro e assassinato. Os guerreiros que o acompanhavam eram presos e torturados. Mas, os índios entendiam a importância da luta, e usando de seus conhecimentos profundos do território e da mata davam cobertura a Marcelino. Assim, sua luta resistiu durante cerca de 20 anos.
Diante da grande resistência indígena, a polícia começou a utilizar a tortura sobre os índios para descobrir o paradeiro do grande guerreiro. Marcelino então se entregou para proteger o povo, sendo preso em 06 de novembro de 1936. Ninguém sabe o que lhe aconteceu na prisão, e o Caboclo nunca mais foi visto liderando os índios em sua luta na região de Olivença. Mesmo assim, há quem diga que ele conseguiu fugir pela mata e passou ainda muitos anos vivendo na natureza. Outros dizem que ele foi lutar na guerra do Paraguai e morreu no Rio de Janeiro muitos anos depois, são muitas as histórias sobre o que aconteceu com Marcelino após sua prisão e no final de sua vida. Mas de alguma maneira, a história de Marcelino continua, como quando lideranças atuais são acusadas de serem sequestradores, ladrões e bandidos pela mídia e seus perseguidores. Mas não é apenas nas perseguições que a história de Marcelino se reconstrói, mas também, e principalmente, nas lutas do presente. Diversas lideranças de agora são vistas como uma continuidade da luta de Marcelino, o guerreiro que tentou expulsar os fazendeiros do território Tupinambá. Sua vida e luta estão sendo sempre retomadas e relembradas nas práticas cotidianas de guerreiros, guerreiras e lideranças e na caminhada anual que acontece sempre no mês de setembro indo de Olivença ao rio Cururupe para lembrar e homenagear este e outros guerreiro e guerreiras do passado, que como Marcelino, nunca morrerão.
Marcelino
